Meu melhor amigo

Eu já fiz algumas besteiras na vida. Algumas não, váaarias. Mas não me arrependo de nenhuma. É aquela velha história: se não tivesse me enfiado de cabeça, estaria até hoje me coçando para saber se teria valido à pena ou não.

Mas quando dou um rewind na memória, lembro de uma atitude que me deixa triste até hoje. Foi num dia, no auge da minha adolescência rebelde, quando numa discussão com o meu pai, disse que ele era um merda de pai.

Nossa, me dói só de escrever sobre isso. Mas talvez seja uma forma de exorcizar esse momento.

Ele trabalhava em São Paulo e voltava pra casa só aos finais de semana. Sempre foi um cara reservado, tranqüilão. A gente conversava pouco. A sensação que eu tinha é de que aqueles 450 quilômetros que separam o Rio de São Paulo era a mesma distância que mantínhamos dentro de casa.

Foi preciso mais uns sete anos de maturidade e uma crise financeira na família para nos aproximar. Para eu reconhecer que o cara que vivia sempre tão longe, fazia isso para poder pagar o meu curso de inglês, o meu colégio, a minha faculdade, o conforto da minha casa. E que quando estava perto, me amava do jeito dele, sem precisar ou sem saber dizer isso.


Ao contrário do que a gente pensa, os pais não sabem de tudo. Meus amigos que já são pais devem saber disso melhor do que eu.

Foi preciso mais uns cinco anos de maturidade e outra temporada em São Paulo (dessa vez foi a minha vez de ir morar lá) para nos tornarmos mais do que pai e filha, mas dois grandes amigos. Que saem para almoçar ou caminhar no calçadão e que não param de falar um só minuto – sobre as doiderinhas da minha mãe, sobre o último almoço na casa dos meus avós, sobre a incrível sensação de felicidade que é chegar no Rio depois de quinze dias direto em São Paulo. E sobre a felicidade ainda maior que é decidir voltar a morar no Rio depois de uma temporada de dois anos do lado de lá da Dutra.

Ninguém melhor do que ele para entender o que eu tô sentindo agora.

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