Eu preferia ter ficado na saudade....


Tem coisas que seriam melhores se existissem apenas no campo da imaginação, da idealização, da poesia e do romantismo. Quando tornam-se realidade, próximas de nós, perdem a graça. É o caso da Bossa Nova. Ou dos remanescentes dela.

Desde os meus 15, 16 anos, comecei a me interessar pelas canções de João Gilberto, Nara Leão, Tom Jobim. E não foi por influência de pais, namorados ou amigos. Sei lá como foi. Eu sei que desde essa idade comecei a comprar CDs, livros, ler reportagens sobre a turma da bossa e me interessar por tudo que fosse ligado ao tema.

Como uma eterna apaixonada pelo Rio, achava que essa galera sabia como ninguém cantar as maravilhas da cidade. O Rio romântico, do banquinho, do violão, das garotas de Ipanema, da boemia, das pedras do Arpoador...


Por tudo isso, fiquei contente quando soube da notícia do show de 50 anos da Bossa Nova aqui na esquina de casa. No mesmo palco, estariam reunidos os veteranos Roberto Menescal, Carlos Lyra, Wanda Sá, João Donato, Oscar Castro Neves e Marcos Valle com a nova geração representada por Fernanda Takai, Maria Rita e Bossacucanova. Seria uma grande felicidade poder assistir esse encontro histórico aqui na areia de Ipanema.


Mas, no final das contas, achei o show bem morno. A nova geração empolgou muito mais que a velha guarda. Fernanda Takai cantou um trecho de O Barquinho em japonês, Maria Rita emocionou o público interpretando Corcovado, e o Bossacucanova encerrou a noite pra cima, com a nova bossa eletrônica. Com exceção de João Donato e de Marcos Valle, acompanhado por Nado Leal, os veteranos não empolgaram muito. Tá certo que o estilo é genuinamente cantado baixinho, tranqüilinho – o que eu adoro – mas o fato é que o show foi morno, quase frio.


E querem saber o que mais? Desde que começaram a pipocar matérias quase diárias por conta das festividades dos 50 anos e os tais personagens dos livros de Ruy Castro e Nelson Motta começaram a tornar-se realidade, comecei a achá-los um saco. Vaidosos e egocêntricos, eles perdem muito tempo discutindo sobre quem realmente inventou o termo Bossa Nova, quem de fato freqüentava a casa da Nara Leão, quem de verdade fazia parte da panela do Beco das Garrafas....Ui, cansei. Coisa mais chata.


Não é à toa que os maiores não participam dessa bobagem toda: Tom e Vinícius, por motivos óbvios. E João, ele sim o grande criador, não precisa provar nada pra ninguém. Melhor continuar isolado, compondo no tal quarto do apartamento que eu nunca sei se fica no Leblon ou em Nova York, mas que ocupa o imaginário de todo mundo que cultiva um certo romantismo pela Bossa Nova.





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