Três cenas cariocas


Praia de Ipanema, quinta-feira, 14h
Primeiro dia do feriado. A lotação da praia estava atingindo o pico. Bastante gente, mas nada comparado ao verão - tem quem não acredite no solzinho gostoso do outono. Como de praxe, finquei a barraca na areia, mas nem dei bola pra sombra, projetada atrás da cadeira. E lá fiquei - virada de frente para o sol e de costas para o mar, batendo papo com uns amigos. Até que, de repente, começamos a sentir um cheiro esquisito. Um cheiro ruim, que logo tomou conta do lugar. Olhamos para um lado, para o outro, e nada. Olhamos para trás. E lá estava um mendigo, amarradão, deitado na sombra da minha barraca, dormindo de boca, pernas e braços abertos. Nem aí pra quem estava em volta. Era o dono do pedaço.

Rua Nascimento Silva, quinta-feira, 17h
Depois do dia inteiro de praia, voltei pra pegar o carro – aquele cuja porta do motorista AINDA não abre. E lá da esquina, o guardador veio me acompanhando. O cara era um negrão de uns cinqüenta e tantos anos, magro, barbudo, falava meio mole, parecia estar meio bebum.

- E aí, a praia estava boa?
- Estava sim, uma delícia - respondi.
- Vou te falar uma coisa: eu moro no Cantagalo, aqui pertinho da praia, mas há uns dez anos eu não vou, acredita?
- Não, não acredito. O senhor não sabe o que está perdendo – disse eu abrindo a porta do carona para entrar.

Quando me preparava para ligar o carro, ele bateu no vidro. Eu já tinha dado uns trocados quando cheguei e fiquei com receio de ele pedir mais. Achei melhor não abrir.

- Pode falar daí que eu escuto – disse. E ele insistiu, gesticulando.
- Não. Abre aí, quero falar com você.

Abri. E ele:

- Pra não falar que não vou há praia há dez anos, ontem eu mergulhei lá no canal do Jardim de Alah!!! Hauhauhauhauhau – e deu uma gargalhada, abrindo a boca com bafo de pinga e sem nenhum dente dentro. Figuraça.

Ciclovia de Ipanema, quinta-feira, 19h
Fui dar uma corridinha do Arpoador ao Leblon. No caminho, encontrei um amigo dos tempos do colégio e seguimos correndo juntos. Falamos sobre os amigos que casaram, os que mudaram de cidade, os que estão saindo do Brasil, blá blá blá, blá blá blá. Ele perguntou se continuo morando em São Paulo, eu disse que sim, e ele aproveitou para me contar uma história, no mínimo, engraçada.

- Pô, um final de semana desses eu fui visitar meu irmão, que está morando lá há uns três anos. Cheguei sexta à noite. No sábado, acordei e perguntei: e aí, o que é que a gente faz em São Paulo num sábado de manhã? E ele respondeu, curto e grosso: A gente volta a dormir moleque....

***
Estou indo pra São Paulo amanhã. Vou ficar uma semana. E sábado, quando acordar, espero poder arrumar as malas e voltar correndo pro Rio!

Comentários

Anônimo disse…
É amiga,
a nossa cidade é maravilhosa mesmo!
Não tem lugar no mundo que o sol brilhe como aqui!
Adorei as suas cenas cariocas.
E só uma carioca de alma e coração saberia sentir o cotidiano com toda essa graça e alegria!
Saudades!!!
beijos cheios de sol
Beta

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