O surf e o meu carro velho

O Joelson, inclusive, tem três pranchas dentro da oficina, o que causou desconfiança no meu pai dia desses. “Esse cara entende mesmo é de surf, não deve saber nada de carro. É por isso que cada vez o seu carro aparece com um problema diferente”, alfinetou ele, cheio de preconceitos. Mas sei que não é nada disso. O carro está velho mesmo, não tem como o fazer milagre.
Dessa vez era a bateria que ameaçava me deixar na mão. Resolvi esperar lá mesmo ele abrir o carro, detectar o problema correto e me passar o orçamento. Como de praxe, o Joelson acabou descobrindo outros problemas. Alguma coisa no cilindro estava fazendo o carro fazer um barulho parecido com o de uma maquina de costura: Tectectectectec.....Meu olho esquerdo começou a tremer involuntariamente só em pensar que eu morreria em mais uma grana. Preta.
Fui tomar uma água de coco no calçadão e quando voltei já estava tudo resolvido.
- Vamos dar uma volta pra você ver que o barulho sumiu, disse ele com a mão cheia de graxa.
E lá fomos nós acelerando o carango até a Prainha, sem nenhum barulho sequer. No caminho, percebi que o cara era mesmo local.
- Fala Lazão! - disse ele pro baterista do Cidade Negra que surfa ali há anos.
-E aí Hemp? - cumprimentou o vendedor de incensos mais famoso do pico.
- Como é que tá Zeala?- falou para um coroa surfistão.
Na volta para a oficina, mais aliviada e já com o olho sem tremer, perguntei se ele conhecia alguém que desse aula de surf ali pelo Recreio. Há quase dois anos morando em São Paulo, o pouco que eu sabia fazer em cima da prancha só piorou com a falta de prática.
- Pô, eu te ensino - disse ele.
- Você dá aula?
- Eu fui campeão carioca de surf. Caio cedinho, todos os dias - falou, todo orgulhoso, em cima de seus pouco mais de um metro e meio.
- Nossa Joelson, jura?
- Claro! Aparece aí essa semana que a gente começa. Nem vou te cobrar nada.
Virei brother do mecânico.
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