O surf e o meu carro velho

Era para ser um sabadão de praia como outro qualquer, não fosse o meu carro velho. E lá fui eu novamente para a oficina do Joelson. A oficina fica no Terreirão, uma favelinha dentro do Recreio, ao lado da Praia da Macumba, um dos melhores picos de surf do Rio. Na mesma rua, há varias surfshops e gente andando com prancha debaixo do braço para todos os lados.

O Joelson, inclusive, tem três pranchas dentro da oficina, o que causou desconfiança no meu pai dia desses. “Esse cara entende mesmo é de surf, não deve saber nada de carro. É por isso que cada vez o seu carro aparece com um problema diferente”, alfinetou ele, cheio de preconceitos. Mas sei que não é nada disso. O carro está velho mesmo, não tem como o fazer milagre.

Dessa vez era a bateria que ameaçava me deixar na mão. Resolvi esperar lá mesmo ele abrir o carro, detectar o problema correto e me passar o orçamento. Como de praxe, o Joelson acabou descobrindo outros problemas. Alguma coisa no cilindro estava fazendo o carro fazer um barulho parecido com o de uma maquina de costura: Tectectectectec.....Meu olho esquerdo começou a tremer involuntariamente só em pensar que eu morreria em mais uma grana. Preta.

Fui tomar uma água de coco no calçadão e quando voltei já estava tudo resolvido.

- Vamos dar uma volta pra você ver que o barulho sumiu, disse ele com a mão cheia de graxa.

E lá fomos nós acelerando o carango até a Prainha, sem nenhum barulho sequer. No caminho, percebi que o cara era mesmo local.

- Fala Lazão! - disse ele pro baterista do Cidade Negra que surfa ali há anos.
-E aí Hemp? - cumprimentou o vendedor de incensos mais famoso do pico.
- Como é que tá Zeala?- falou para um coroa surfistão.

Na volta para a oficina, mais aliviada e já com o olho sem tremer, perguntei se ele conhecia alguém que desse aula de surf ali pelo Recreio. Há quase dois anos morando em São Paulo, o pouco que eu sabia fazer em cima da prancha só piorou com a falta de prática.

- Pô, eu te ensino - disse ele.
- Você dá aula?
- Eu fui campeão carioca de surf. Caio cedinho, todos os dias - falou, todo orgulhoso, em cima de seus pouco mais de um metro e meio.
- Nossa Joelson, jura?
- Claro! Aparece aí essa semana que a gente começa. Nem vou te cobrar nada.

Virei brother do mecânico.

Comentários

Unknown disse…
Tenho certeza que nessa hora vc pensou: valeu cada centavo!!! hehehehehe
Anônimo disse…
hahaha. Marcelle, vc é muito engraçada. E aí, tem ido às aulas? bjs, Rafaela Lemos

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