Fotos que sangram


Lembro de alguns mestres do jornalismo dizerem que o ápice da carreira de um repórter é cobrir uma guerra. Ouvi isso do Lourival Santanna, repórter especial do Estado de S. Paulo, enviado para Beirute, Iraque e Afeganistão, e o mesmo do fotógrafo Zeca Linhares, que cobriu a guerra do Chipre pelo JB.

Mas quem trabalha no Rio não precisa ir tão longe para passar por essa prova de fogo. O cotidiano de qualquer fotojornalista policial daqui é tão ou mais emocionante que o de um correspondente de guerra.

O filme Abaixando a Máquina - ética e dor no fotojornalismo carioca, que o meu querido amigo Renato de Paula dirigiu junto com fotógrafo Guillermo Planel, mostra bem essa realidade.

No documentário, eles ouviram figuras como Evandro Teixerira, Alexandre Brum, Carlo Wrede, João Laet, Uanderson Fernandes, Nilton Claudino, Custódio Coimbra, Marcelo Carnaval e Wilton Jr., e levantaram questões sobre o momento certo de abaixar a máquina. Se ele existe ou não, cabe a cada um decidir.

Se por um lado registrar o enterro de uma criança morta por bala perdida causa comoção e até constrangimento por parte desses profissionais, por outro, a imagem denuncia, choca, chama a atenção para a violência....e pode até dar prêmio.

O fato é que, assim como os policiais, os fotojornalistas cariocas nunca sabem se vão voltar vivo pra casa depois de um dia de trabalho. E embora enfrentem diariamente a tensão, o medo e os riscos de cobrir essa guerra não declarada, esses caçadores de imagens deixam duas coisas bem claras: eles não se acostumam com a violência que presenciam diariamente, mas quando estão no meio do fogo-cruzado, torcem para conseguir registrar a melhor imagem - se é que dá para considerar boa imagem a de um homem baleado.

O filme foi exibido essa semana em um cinema do Leblon e ainda não tem data para entrar em circuito comercial, mas os produtores já estão promovendo sessões seguidas de debates em escolas e comunidades.

É tenso do início ao fim, mas se tiver uma oportunidade de assistir, vale à pena respirar fundo e acompanhar os bastidores das fotos que, infelizmente, estão todos os dias nas páginas dos jornais.

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