Fotos que sangram

Lembro de alguns mestres do jornalismo dizerem que o ápice da carreira de um repórter é cobrir uma guerra. Ouvi isso do Lourival Santanna, repórter especial do Estado de S. Paulo, enviado para Beirute, Iraque e Afeganistão, e o mesmo do fotógrafo Zeca Linhares, que cobriu a guerra do Chipre pelo JB.
Mas quem trabalha no Rio não precisa ir tão longe para passar por essa prova de fogo. O cotidiano de qualquer fotojornalista policial daqui é tão ou mais emocionante que o de um correspondente de guerra.
No documentário, eles ouviram figuras como Evandro Teixerira, Alexandre Brum, Carlo Wrede, João Laet, Uanderson Fernandes, Nilton Claudino, Custódio Coimbra, Marcelo Carnaval e Wilton Jr., e levantaram questões sobre o momento certo de abaixar a máquina. Se ele existe ou não, cabe a cada um decidir.
Se por um lado registrar o enterro de uma criança morta por bala perdida causa comoção e até constrangimento por parte desses profissionais, por outro, a imagem denuncia, choca, chama a atenção para a violência....e pode até dar prêmio.O fato é que, assim como os policiais, os fotojornalistas cariocas nunca sabem se vão voltar vivo pra casa depois de um dia de trabalho. E embora enfrentem diariamente a tensão, o medo e os riscos de cobrir essa guerra não declarada, esses caçadores de imagens deixam duas coisas bem claras: eles não se acostumam com a violência que presenciam diariamente, mas quando estão no meio do fogo-cruzado, torcem para conseguir registrar a melhor imagem - se é que dá para considerar boa imagem a de um homem baleado.
O filme foi exibido essa semana em um cinema do Leblon e ainda não tem data para entrar em circuito comercial, mas os produtores já estão promovendo sessões seguidas de debates em escolas e comunidades.
É tenso do início ao fim, mas se tiver uma oportunidade de assistir, vale à pena respirar fundo e acompanhar os bastidores das fotos que, infelizmente, estão todos os dias nas páginas dos jornais.
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