Eu recomendo: Gota d´água


Ontem à noite, uma mulher me deixou arrepiada. Com um nó na garganta, extasiada, sensação de não acreditar no que estava vendo. Ela, no palco. Eu, na platéia do Teatro Carlos Gomes.

O nome dela é Izabella Bicalho. Atriz e produtora do musical Gota D´água, que reestréia hoje na teatro da praça Tiradentes depois de uma temporada no Glória ano passado.

A primeira montagem desse texto de Chico Buarque e Paulo Pontes foi em 1975, e teve Bibi Ferreira como protagonista. Trata-se de uma adaptação para a realidade brasileira da tragédia Medéia, de Eurípedes. Na versão contemporânea desse clássico, Medéia chama-se Joana, traída pelo seu grande amor que busca o sucesso na carreira de sambista.

Pouco antes de entrar no teatro, ouvi de longe um produtor dizer que o espetáculo teria três horas de duração. Achei que estava enganada, já que iria assistir um musical e não uma ópera. Mas foi isso mesmo. Foram três horas com os olhos arregalados, e reações que variavam do riso à tensão e ao sofrimento da mulher traída. Sim, porque a Izabella tem o poder de nos fazer sentir na pele da Joana, aquela dor, a tristeza, o rancor de ser trocada por outra.

No intervalo, a sensação foi de que as pessoas ao meu redor sentiam o mesmo. Estava todo mundo impressionado com o que via. E os comentários na fila do banheiro corroboraram isso.

Com direção de João Fonseca, Gota d´água conta com outros bambas dos palcos cariocas: Lucci Ferreira, Thelmo Fernandes, Kelzi Ecard, Luca de Castro, Karen Coelho, Sheila Matos, Pedro Lima, André Araújo, Lílian Valeska e as crianças Armando Cibilo, Maria Ingrid Bicalho Vannucci, Renan Mayer e Yvina Raira. Dividindo o palco com o elenco, os músicos João Bittencourt, Jorge Oscar, Júlio Braga e Roberto Kauffmann.

No final do espetáculo, como é de praxe, após alguns minutos de aplausos que pareciam ser intermináveis, a Izabella pediu para que recomendássemos aos amigos. E aqui estou eu, cumprindo à risca o pedido. Assistam Gota d´água. E recomendem aos amigos.


Gota d´água

Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água

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