O gigante negro do cinema brasileiro

Nas últimas semanas, tenho passado grande parte do meu tempo com uma pessoa muito especial chamada Zózimo Bulbul. Este carioca de 70 anos de idade é um dos maiores – e porque não o maior - diretores negros do cinema brasileiro. Começou com a turma do Cinema Novo: Glauber Rocha, Leon Hirzman, Nelson Pereira dos Santos. Foi o primeiro ator negro a namorar uma mulher branca (a Leila Diniz) em uma novela – que acabou sendo tirada do ar pela censura. Foi preso por conta de um filme inspirado na poesia do amigo Vinícius de Moraes, que acabou o ajudando a sair da cadeia.

Cheio de boas histórias contadas pela voz tão forte quanto serena, esse gigante preto é reverenciado pela comunidade negra do Brasil e por grandes cineastas africanos que estão no Rio por conta de um emocionante encontro de cinema que ele está promovendo.

Não fosse por esse trabalho de divulgação que estou tendo o maior prazer em realizar, dificilmente teria tido a chance de ver Samba no Trem, Alma no Olho ou Abolição, alguns dos filmes dirigidos pelo Zózimo. Pior: talvez nunca nem teria ouvido falar no nome dele. Sim, porque a menos que você seja um cinéfilo, cineasta ou estudante de cinema, não teria acesso fácil a tudo isso.

Porque no Brasil, por mais que 70% da população seja negra, eles ainda vivem em total marginalidade. Isso reflete até no acesso aos filmes que produzem - e que não são poucos. E como disse o próprio Zózimo em uma entrevista para o Fantástico, que deve ir ao ar nesse domingo, “Essa história de que no Brasil o preconceito é velado é um mito. Aqui o preconceito é descarado mesmo. Só sendo preto para sentir.....”. Duvido que essa declaração vá ao ar - o repórter parecia estar pautado para fazer uma matéria de mentirinha, o que me impressionou - mas isso é outra história.

O importante, gente, é que o Zózimo tá aí. E acabou de inaugurar, na Lapa, um centro de referência para o cinema negro: O Centro Afro Carioca de Cinema. Apesar da idade, ele está cheio de gás para continuar lutando e abrindo caminho para os mais jovens. E faz questão de frisar que "muito mais que samba e futebol, preto sabe fazer cinema muito bem".

Eu virei fã. E abracei a causa. Até porque o meu cabelo não nega...

Comentários

Anônimo disse…
Gostei muito deste texto e acho que real mente o negro no Brasil ainda é muito desvalorizado!!!
Espere que isso possa mudar e que nosso país possa se tornar um exemplo de sociedade em que não existe nenhum tipo de preconceitos entre raças.

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