Meu tempo é hoje!


Às vezes eu acho que vivo na época errada. Que devia ter nascido lá pelos anos 30 para ter curtido o início da Bossa Nova no auge dos meus vinte e poucos anos. Se ainda hoje a zona sul do Rio é uma província onde todo mundo faz arte e é amigo, não duvido que naquela época teria dividido a mesa do Jangadeiros com a turma da Bossa. Adoraria poder ouvir de perto as pérolas do Tom, as histórias amorosas do Vinícius e as maluquices do João Gilberto.

Ontem, pude sentir um pouco dessa atmosfera no show do Carlos Lyra, na Modern Sound, em Copacabana. Se Vinícius estivesse vivo, completaria 94 anos nessa sexta-feira, 19 de outubro, o que deu ao show um clima de festa entre amigos. Na platéia, Os Cariocas (que abriram a noite), Roberto Menescal e Leny Andrade (que deram canja), Cris Delanno (que cantou maravilhosamente O Negócio é Amar, de Carlos Lyra, - letra no final desse texto), Ruy Castro (autor do livro cuja capa ilustra esse blog) e até a Lígia (Sim ela, a musa inspiradora de Tom!).

A noite foi uma delícia e terminou em outro show, bem mais despretencioso, num sobrado escondido da Rua......Vinícius de Moraes, em Ipanema. O lugar é um apartamento residencial no segundo andar de um prédio antigo com muro grafitado onde você toca a campainha e alguém joga a chave pela janela. Dois lances de escada acima, você entra em uma sala com iluminação intimista e decoração aconchegante - e porque não kitsch -, onde um grupo de pessoas sentadas no chão ou no sofá cantam e tocam violão no maior astral até de madrugada.

Aí hoje acordei pensando que eu vivo na época certa. Que o meu tempo é hoje, como diria Paulinho da Viola. Ou que o meu tempo é o futuro, como conclui o Carlos Lyra no site dele . Ou até mesmo que o tempo é efêmero, como diz o meu sábio e querido avô, e que por isso eu preciso viver cada momento intensamente.


Pensei também que me sinto privilegiada por poder conviver com amigos talentosos, sensíveis e cheios de senso de humor. Acho que se tivesse vivo, o Vinícius ficaria amarradão em poder tomar um chopinho com a gente no Baixo Gávea!

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Ah!, Mudamos a data do show do Cláudio Lyra. Será 2 de dezembro, domingo, às 19h, No LUNÁTICO CAFÉ E CULTURA, no Jardim Botânico (DE GRAÇA!!!). Assim dá para você sair da praia (estaremos quase no verão!!!), passar em casa, tomar banho, dar aquela dormidinha clássica e curtir a noite ouvindo música de primeira qualidade.

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Música: O NEGÓCIO É AMAR
Autor(es): Carlos Lyra & Dolores Duran


Tem gente que ama
Que vive brigando
E depois que briga
Acaba voltando
Tem gente que canta
Porque está amando
Quem não tem amor
Leva a vida esperando

Uns amam pra frente
E nunca se esquecem
Mas são tão pouquinhos
Que nem aparecem
Tem uns que são fracos
Que dão pra beber
Outros fazem samba
E adoram sofrer
Tem apaixonado
Que faz serenata
Tem amor de raça
E amor vira-lata
Amor com champanhe
Amor com cachaça
Amor nos iates
Nos bancos de praça

Tem homem que briga
Pela bem amada
Tem mulher maluca
Que atura porrada
Tem quem ama tanto
Que até enlouquece
Tem quem dê a vida
Por quem não merece
Amores à vista
Amores a prazo
Amor ciumento
Que só cria caso
Tem gente que jura
Que não volta mais
Mas jura sabendo
Que não é capaz

Tem gente que escreve
Até poesia
E rima saudade
Com hipocrisia
Tem assunto à beça
Pra gente falar
Mas não interessa
O negócio é amar

Comentários

Anônimo disse…
A noite realmente foi uma delícia :)
Vale o comentário a respeito de "O negócio é amar". A letra foi escrita pela Dolores Duran em 1959 (pouco antes de morrer), e só foi entregue ao Carlos Lyra musicar no início dos anos 80, quando uma amiga achou o papel com o original no meio das coisas dela.
Portanto trata-se de uma parceria póstuma e a letra apesar de ter quase 40 anos continua atual.

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