Por quê que a gente é assim?


Pelo segundo ano consecutivo, meu marido foi viajar com os amigos para surfar. Embora eu tenha total noção de que é preciso respeitar a individualidade de cada um, de que precisamos dedicar um tempo só com os amigos e blablablá, essa viagem me causou um certo desconforto.

A ideia dele sentir vontade de se divertir sem mim, o grupo criado com os amigos no whatsapp um mês antes da viagem, tudo aquilo foi me causando uma mistura de incômodo e tristeza. Foi aí então que eu procurei me acalmar e me observar.

Egoísta, ele? O Marcelo é uma das pessoas mais altruístas que eu conheço. Individualista? Como, se ele (quase) sempre faz tudo o que eu peço? Comecei a perceber que a raiva que eu sentia era por não ter a mesma vontade de sair de férias sem ele. E esse não é um problema dele, mas meu.

No dia em que ele embarcou, saiu de casa de madrugada e eu nem levantei para me despedir. Assim que chegou no destino, começou a me mandar mensagens contando quase o passo a passo do primeiro dia. Eu só respondia com carinha-fofa-sorrindo 😍. Ele tentou duas vezes falar comigo por chamada de vídeo, mas eu não atendi.

Mas por que toda essa raiva? Por que o desânimo? Procurei fazer coisas que me dão prazer e me acalmam. Fui sozinha à praia em Ipanema. Levei Assim Falava Zaratustra, do Nietzsche - indicação do Marcelo. É o livro que ele salvaria se só pudesse escolher um. Eu estava em busca de serenidade, tranquilidade, paz interior. Toda aquela angústia estava me fazendo mal.

Depois de um mergulho no mar e de um pouco de filosofia, fui assistir a uma palestra em um templo Hare-Krishna. Sábado à noite, me vi dançando e cantando mantras de frente para um altar cheio de divindades às quais eu não fazia a menor ideia do que se tratavam. No final, o líder do ritual leu um trecho do Bhagavad Gita, rolou um bate papo, e, vou te contar, gostei bastante. Depois, eles ofereceram um jantar, eu e outra iniciante ganhamos um colar lindo feito com flores naturais, dei carona para duas moças que trabalham no templo, e voltei pra casa.

Estava em paz, bem mais tranquila do que no começo do dia. Assisti a um filme bobinho no Netflix e caí no sono. Objetivo alcançado, venci a batalha comigo mesma.

Domingo levantei menos ansiosa. Até pensei em passar o dia em casa, mas me deu vontade de encontrar as amigas, falar besteira, rir um pouco. Sugeri uma ida à cachoeira. E lá fomos nós três para a Floresta da Tijuca. Foi um dia feliz.

Não me senti à vontade para revelar a angústia que estava sentindo dias atrás e perguntar se elas sentiam o mesmo - os maridos delas eram os companheiros de viagem do meu. Acho que não. Mas também não sei se elas sentem vontade de deixar os maridos para fazer uma viagem de uma semana só com as amigas. Também acho que não.

Não por culpa, medo ou falta de dinheiro. Simplesmente porque a gente é assim. Vai entender.

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